terça-feira, 29 de maio de 2018

Segue o teu coração

Segue o teu coração. A certo ponto, foi essa a frase que se impôs no meu caminho. Mas o que é seguir o coração senão a nossa incapaz função de pensar? O que é seguir o coração senão a nossa busca por um oásis ilusório produzido pela nossa mente?
Por vezes, seguir o nosso coração não é suficiente. Por vezes é essa a razão pela qual passamos a confundir perseverança e determinação com autohumilhação. Mas não será o sentimento de humilhação apenas mais uma das tantas consequências de amar? Afinal, humilhamo-nos todos os dias quando amamos alguém ao expormos o que sentimos.
No entanto, a única maneira de essa humilhação ser considerada positiva é se nos depararmos com outro ser igualmente humilhado e nú. Mas, por vezes, humilhamo-nos perante alguém que se encontra com várias camadas de pele e orgulho. Alguém cego por mágoa e incompreensão. E é quando encontramos essa tão triste faceta que tudo deixa de valer a pena. É nesse momento em que a perseverança se metamorfiza para verdadeira humilhação.
E o coração deixa de ter sentido. Não sabe o que seguir. Mas o coração, ao contrário da mente, não possui orgulho, apenas sentimentos, por vezes difusos.
Ele quer. Ele não quer. Ele ama. Ele odeia.
Independentemente de tudo isto, ele sente. Por vezes mais do que devia. Mas o que é o coração senão um belo cavalo que galopa através do prado que é a vida?
Muitas vezes, queremos seguir esse cavalo, mas já não acreditamos que aquilo que ele procura irá estar lá à espera. E depois de tantas corridas que esse cavalo já fez para lá chegar, ficou cansado, e agora tomou a decisão de ficar no seu pequeno estábulo à espera que o procurem. E o cavalo quer correr, mas já não há forças que lhe valham.
Tudo é provisório. Tudo é relativo. Nada sobrevive para sempre, seja mágoa ou amor. Cabe a cada um de nós escolher o que quer para as nossas vidas, também provisórias. Ou termina a mágoa, ou termina o amor. É uma escolha que atormenta qualquer um. Se acaba a mágoa, termina o amor. Se a mágoa permanece, então o amor permanece a seu lado. Pois o que é o amor sem mágoa?
Amar magoa. E isso é tão certo como o bater do meu coração, pois nada é perfeito.
Já falei sobre o significado do amor e das suas adversidades algures no passado e, na sua essência, é felicidade, mágoa e imperfeição. Afinal, todos nós amamos ou já amámos. Eu amo e já amei. E apenas amo se conseguir visualizar um futuro.
Mas, por vezes, esse futuro é-nos arrancado, pois não depende só de nós. Cabe a cada um colocar uma pedra no lugar, e se faltar uma pedra, tudo pode derrocar.
Reconstruimos? Ou desistimos? Lá está, a derradeira questão. E como responder a tão profunda dúvida?: Segue o teu coração.

sábado, 7 de maio de 2016

Inconstante e impiedoso. É dessa forma que acompanhas a minha ainda tão curta vida, tento fazer com que ela termine por aqui.
Corres e paras. Estás em falta em todo o teu excesso. És linear mas retomas para todo o teu percurso. És infinito até que deixes de o ser.
Nunca dou por ti, mas tenho sempre em mim a dolorosa noção de que estás constantemente presente. Não chegas para mim por mais que eu te tente organizar ou por mais que eu me molde à tua inexistência.
Por vezes, gostava de por um ponto final no teu percurso para não teres a oportunidade de colocares um no meu. Outras vezes, desejava olhar para o teu futuro para descobrir como terminarás com o meu.
Tamanha curiosidade que nunca poderá ser saciada, seja com tecnologias ou previsões, e enquanto continuas constante e presente, apenas me resta esperar.
És o motor da vida. És o senhor da morte. És o eterno comandante do mundo, mas nunca jogas com a sorte.
Imperador e dono de tanto poder, mas não possuis a consciência para o compreender nem a audácia de sequer tentares tomar o que já é teu.
E eu, sorrio e sofro enquanto espezinhas toda a minha vida e deixas em mim mutilações inconfundíveis.
Não sei se te agradeça ou se sucumba a todos os percursos que ainda não introduziste no meu caminho com um único sentido. Mas sei que tu, Tempo, és especial, pois não há mais nada, existente ou inexistente, que saiba metade de tudo aquilo que sabes, ou que já viu o que tu ao longe observaste. És puro mistério  que ninguém conseguirá desvendar. Muitos irão tentar, mas quando estiverem próximos da verdade, o tempo deles terá terminado.

sábado, 30 de abril de 2016

Eu não sei o que fiz de errado. Não reconheço os meus erros no meio do desespero que faz a minha alma gritar silenciosamente. Na verdade, é tudo o que resta em mim. Gritos. Silenciosos e intermináveis que apenas são abafados pelo meu choro escondido dos olhos do mundo.
Escorrem lagoas pela minha face sem eu sequer dar conta desse dilúvio infernal dos meus sentimentos. Queria que tudo isto tivesse um final conclusivo, mas isso não é possível.
Preciso de uma razão, um motivo apenas para teres tomado a tua decisão sem sequer pensares em mim. Contudo, nada dói mais do que as promessas quebradas e deixadas aos cuidados do vento, que as leva desnaturadamente, sem se importar na grande parte de mim que leva trancado nas suas correntes.
Trocaste-me. Por alguém e por ninguém. Por um mundo mais além. Um mundo que não tem o amor que eu te dei nem a facada que de ti levei.
Diz-me o porquê. Diz-me onde errei. Diz que a culpa é minha! Prefiro essa dor à de não saber a razão de tudo ter tomado o caminho que tomou. Atira-me as culpas, as mágoas e as frustrações que eu prometo guardá-las da mesma maneira que tu prometeste que nunca irias deixar-me.
Só quero libertar-me desta troca, deste comércio desumano no qual eu sou escravo inocente. Liberta as minha correntes pois eu mereço ser livre tal como tu sempre foste, mas quiseste-o ser com outra pessoa. Afinal, eu também me trocava a mim próprio sem sequer olhar para trás.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Velho Poema

Eu não sei se quero sentir
Bloqueio o meu sofrer
Recuso esta mágoa
E a dor que me dás a beber.

Perco-me por ruas de saudade
Vielas da minha insegurança
Refugio-me na maldade
Enquanto procuro esperança.

Não quero amar de novo
Seja pessoas ou canções
Vou ser diferente do resto do povo
Não vou criar ilusões.

Esqueço quem me esqueceu
Sem nunca olhar para trás
Saudades de quem já não é meu
E que bem já não me faz.

Misero pensamento
Que me atrevo a imaginar
Triste infinito momento
Que estava destinado a terminar.

Já não há retorno possivel
Agora que a chama se apagou
Ficou um sentimento ilegível
Que com o vento voou.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Subtil. Desordeiramente calmo. Como um pássaro que voa graciosamente por uma tempestade. Algo simplesmente complexo que todos sentem sem ninguém o entender.
É o fogo. É a dor. É a marca. É o amor. Pequena palavra sofrida que transmite pensamentos difusos que se encontram trancados entre a vida e a morte.
Misero sentimento penoso que é capaz de matar, destruir, do mesmo modo que é capaz de criar universos intrapessoais onde as estrelas são memórias a ser mantidas até que este encontre o seu fim.
Amar é andar ao sol sem ter medo de queimar. É a chama embalada de uma vela onde colocamos o dedo em conjunto com alguém e aguardamos até à eternidade, sempre esperando que a vela não apague ou que nenhuma das partes retire o dedo. É a árvore solitária num deserto escaldante onde esta luta para criar raízes. É o oceano  infinito deixado por explorar para uma pequena caravela com dois tripulantes.
Mas o sol queima quem não toma cuidado. O pavio da vela extingue-se sem qualquer aviso. A árvore torna-se fonte de alimento de criaturas alheias. E o barco fica velho, apodrece, e afunda. Mas, acima de tudo, amar é superar as injustas adversidades causadas por aqueles que não souberam amar.
Se o sol queima, então que arda na pele dos dois. Se o pavio termina, então saltem juntos para a fogueira. Se uma árvore morre, plantem uma floresta. Se a caravela afunda, apoiem-se nas asas um do outro e voem. Sem destino. Sem nada. Sem mais ninguém. Apenas os dois e o sentimento que prometeram não deixar afundar com a caravela.
Afinal, amar é viver. Amar é morrer. É viver amando alguém e saber que fomos amados até ao final. E eu amo-te. Por isso voa comigo rumo ao horizonte e não voltes a olhar para trás, para algo que não fomos capazes de transformar em amor.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Navego por intermitentes e incansáveis correntes de azul marinho nascidas na inconfundível escuridão noturna que jaz dentro do meu ser.
O puro sal rasga as marcas deixadas recentemente na minha pele, que latejam à medida que as contracorrentes se entrelaçam nos meus pensamentos desnaturadamente belos.
Vagas de amores perdidos numa tempestade de ilusões é tudo o que resta nos náufragos da minha alma. Procuro o tesouro perdido mas tudo o que encontro são memórias perdidas na brisa marítima que circula no meu coração.
Distante. Como o relâmpago que atinge longe mas que nos toca tão perto. Como a tempestade, da qual só sentimos a brisa. Como o coração partido, do qual só vemos os estilhaços. Como tudo e nada. Como eu me sinto sem ti.
Tamanha desilusão que permanece constante, e eu aguardo que o tempo revele que esta não é intemporal. Aguardo. Dia após dia. Nada de novo acontece e o sentimento continua resguardado em mim, incluindo a parte que deixaste para trás.
Foste com o vento. Com a brisa marítima que chega do mar, que te levou, e que abandonou o seu sal nas minhas feridas, que até hoje continuam abertas sem nunca cicatrizarem.Foste. Não voltas. Não queres. Não sentes. Não amas. Não ME amas. E eu, sem querer, continuo a apaixonar-me por ti todos os dias.
Não vejo a tua face. Não sinto o teu cheiro. Não possuo o teu toque. E tanto que eu queria. Mas não quero. Queria saber largar-te onde pertences e trancar-te lá para sempre: No passado. No meu passado. No nosso passado.
Sinto a tua falta. Recuso-me. Mas o sentimento é mais forte que as minhas vontades. TU és mais forte que as minhas vontades. Sai da minha cabeça tal como eu saí da tua. Deixa-me sentir a paz que tu sentiste quando me deixaste. Abandona o meu coração tal como tu me arrancaste do teu. E não voltes, nunca mais. Apesar de eu te querer. Apesar de eu te desejar. Apesar de eu te amar.