Inconstante e impiedoso. É dessa forma que acompanhas a minha ainda tão curta vida, tento fazer com que ela termine por aqui.
Corres e paras. Estás em falta em todo o teu excesso. És linear mas retomas para todo o teu percurso. És infinito até que deixes de o ser.
Nunca dou por ti, mas tenho sempre em mim a dolorosa noção de que estás constantemente presente. Não chegas para mim por mais que eu te tente organizar ou por mais que eu me molde à tua inexistência.
Por vezes, gostava de por um ponto final no teu percurso para não teres a oportunidade de colocares um no meu. Outras vezes, desejava olhar para o teu futuro para descobrir como terminarás com o meu.
Tamanha curiosidade que nunca poderá ser saciada, seja com tecnologias ou previsões, e enquanto continuas constante e presente, apenas me resta esperar.
És o motor da vida. És o senhor da morte. És o eterno comandante do mundo, mas nunca jogas com a sorte.
Imperador e dono de tanto poder, mas não possuis a consciência para o compreender nem a audácia de sequer tentares tomar o que já é teu.
E eu, sorrio e sofro enquanto espezinhas toda a minha vida e deixas em mim mutilações inconfundíveis.
Não sei se te agradeça ou se sucumba a todos os percursos que ainda não introduziste no meu caminho com um único sentido. Mas sei que tu, Tempo, és especial, pois não há mais nada, existente ou inexistente, que saiba metade de tudo aquilo que sabes, ou que já viu o que tu ao longe observaste. És puro mistério que ninguém conseguirá desvendar. Muitos irão tentar, mas quando estiverem próximos da verdade, o tempo deles terá terminado.